Carol Motta, mamãe de 1:
“A maternidade é um tema delicado. Envolve muitas descobertas e experiências que muitas vezes nos levam a acreditar que o instinto materno surge apenas após o nascimento do filho. No meu caso, a maternidade é um pouco mais complexa, pois estou vivenciando uma maternidade atípica. É algo para o qual ninguém está preparado e nunca imaginamos que aconteceria conosco. Estamos criando um filho especial. A gestação foi tranquila e o parto do Benício ocorreu naturalmente após 40 semanas. Ao longo do seu crescimento e desenvolvimento, minha mãe foi quem percebeu uma mudança de comportamento nele.”
“Quando ele estava prestes a completar 2 anos, minha mãe, que cuidava dele enquanto eu trabalhava, me chamou e sugeriu que eu o levasse a um neuropediatra. Ela não queria que eu ficasse aborrecida ou pensasse que havia algo errado comigo, mas ela achava que o Benício tinha algo diferente e seria interessante buscar ajuda especializada além do pediatra. Minha mãe é pedagoga, então confiei na sua percepção.”
“No começo, confesso que encarei isso como uma espécie de desafio. Eu já me sentia insegura como mãe de primeira viagem, achava que estava falhando em alguns momentos e considerava o comportamento do Benício um pouco difícil. Quando ele nasceu, era um bebê chorão, e eu já duvidava da minha capacidade como mãe. Então, quando minha mãe me deu essa notícia, eu pensei: ‘Vou marcar essa consulta com o neuropediatra, levar o Benício e provar que ela está errada, que não há nada de errado com ele’. Eu achava que ela estava sendo um pouco paranoica por cuidar tanto dele. Marcamos a consulta com o neuropediatra, eu, meu marido e o Benício.”
“Ao chegar lá, o médico pediu que deixássemos o Benício à vontade. Ele saiu do meu colo e começou a explorar a sala do neuropediatra, brincando com alguns brinquedos. O neuropediatra interagiu com ele, tentando brincar de carrinho, mas o Benício o ignorou. O médico fez alguns apontamentos durante a consulta. Nesse meio tempo, estávamos pensando em matricular o Benício em uma escolinha. Tanto eu quanto meu marido acreditávamos que ele precisava se socializar com outras crianças e que talvez seu desenvolvimento um pouco diferente estivesse relacionado a isso. Ele é filho único, então pensamos que a falta de convívio com outras crianças poderia ser a causa desse atraso.”
“Durante a consulta com o neuro, ele nos pediu para responder a um questionário chamado M-CHAT, que é amplamente utilizado por neuropediatras para avaliar o comportamento das crianças. Levamos uma cópia do questionário para a professora da escolinha e pedimos que ela também respondesse, pois acreditávamos que o comportamento do Benício lá poderia ser diferente do comportamento em casa. Tanto eu quanto a professora respondemos o questionário.”
“Foi quando recebemos o primeiro impacto, a primeira notícia difícil de digerir: o médico disse que o Benício apresentava traços autistas. Naquele momento, foi como se ele estivesse falando uma língua estranha. Minha cabeça se encheu de culpa. Por que eu não percebi? Por que não percebi como mãe? O médico, em apenas 15 minutos de convivência, percebeu algo que eu e minha mãe não percebemos. Surgiram muitas perguntas na minha mente. A partir desse momento, comecei a buscar informações e apoio para entender melhor o que isso significava para o Benício e para nossa família.”
Texto extraído e adaptado da conversa com Carol Motta para o Ninho das Mães.