Débora Santos, mamãe de 3:
“Eu tive uma ótima experiência amamentando, eu sou enfermeira, como eu já falei, e na época que eu tive a Gabriela eu trabalhava numa maternidade, na verdade eu trabalhava na UTI neonatal, eu trabalhava orientando mulheres a amamentar, a ordenhar o leite, a cuidar do recém-nascido. Embora nas primeiras semanas eu tive alguma dificuldade sim, porque o bico rachou, não tinha amamentado antes, eu não tinha formação do bico, meu bico era plano, que a gente chama quando ele não é formadinho, e aí racha mesmo, sangra, sai sangue na boca da criança. É um show de horror, parece muito lindo, aparece aquela fotinho da mãe amamentando, aquela coisa maravilhosa, mas tem muita coisa por trás.”
“O peito empedra, que a gente chama, que é quando ele fica muito túrgido, muito endurecido, porque fica com bastante leite acumulado nos alvéolos, que são saquinhos onde fica armazenado o leite, e aí se você não tem a vazão daquele leite, principalmente quando é a primeira gestante, que aí ela produz muito, o corpo dela ainda não sabe exatamente a quantidade que ela precisa produzir pra alimentar aquele bebê, então ela peca pelo excesso, ela produz bastante, e aí enche demais, e aquela mãe de primeira viagem muitas vezes não sabe, como ordenhar, como retirar aquele leite, dói. Eu percebo no meu trabalho como enfermeira, várias experiências dolorosas com amamentação.”
“E tem uma questão física, como eu tô falando sempre, tem uma questão física, mas tem uma questão emocional e psíquica importante, que a gente esquece, não é só o físico de ir lá e amamentar. Por algum motivo, aquela mulher sente que não consegue amamentar, ou ela tá sentindo muita dor, ou ela acha que o leite não tá produzindo a quantidade suficiente de leite, aí ela vai e oferece a fórmula pra criança e se sente muito culpada.”
“Então não é uma questão só nutricional, é também uma questão emocional, que ela se sente muito culpada. Porque ela tá sendo bombardeada por informação. Aquela mulher que é mais esclarecida, e que tá buscando fazer, se conscientizar e ver o que é melhor pro seu filho, ela percebe que o leite materno é o melhor pro seu filho, e é mesmo, do ponto de vista científico, nutricional, é o melhor alimento que tem pro recém-nascido e pro filho, até dois anos de idade é recomendado que você amamente o seu filho. Ela fica com aquilo na cabeça, só que ela tem todas as dificuldades normais que muitas mulheres podem ter, que são essas que eu acabei de colocar. Ela precisa, ou ela se sente na obrigação, de dar o leite artificial, a fórmula pro filho dela, ela sente uma culpa. Isso tudo misturado com as transformações que ela tá passando, enquanto mulher ali no puerpério, uma carga hormonal imensa, pra poder dar conta de sobreviver nesse mundo, pra que essa recém-nascida sobreviva nesse mundo.”
“Então é muito sofrido, e é sofrido fisicamente, por conta dessas transformações no seio que a mulher tem, e nesse ato mesmo que é de você alimentar uma criança com seu próprio corpo, que é algo muito poderoso e muito perturbador, é físico, mas é psíquico também.”
Texto extraído e adaptado das conversas com Débora Santos para o Ninho das Mães.